O turismo é uma das indústrias que mais beneficia com a revolução digital, desempenhando a Internet das Coisas (IoT) um papel central na transformação da experiência dos viajantes e na otimização dos serviços turísticos. A conectividade de dispositivos permite monitorizar, em tempo real, o comportamento dos consumidores, oferecendo soluções que vão desde a personalização da experiência do hóspede até à melhoria da eficiência operacional.
Note-se que a Internet das Coisas (IoT) envolve a interconexão de dispositivos inteligentes que podem recolher, processar e transmitir dados. No setor de turismo, isso tem implicações profundas, permitindo a criação de experiências mais personalizadas para os viajantes, além de melhorar a eficiência na gestão de hotéis, aeroportos, agências de turismo e atrações turísticas. A IoT pode, assim, ser encontrada em diversas aplicações, como:
Como supramencionado, a implementação da IoT no setor de turismo oferece inúmeras vantagens que impactam diretamente a experiência dos viajantes e a eficiência operacional das empresas. A personalização dos serviços é uma das principais contribuições dessa tecnologia. Dispositivos conectados permitem que as preferências dos turistas sejam monitorizadas e, com isso, os serviços podem ser ajustados, em tempo real, para atender melhor às necessidades individuais dos clientes.
Numa cidade turística, por exemplo, aplicações móveis e dispositivos inteligentes podem oferecer recomendações personalizadas de atrações, restaurantes e atividades com base no histórico do utilizador e na sua localização em tempo real, proporcionando uma experiência mais rica e adaptada ao perfil do viajante.
Além disso, a eficiência operacional das empresas de turismo é substancialmente melhorada: hotéis, resorts e alojamentos locais podem integrar sensores IoT que monitorizam o uso de energia, água e outros recursos. Isso permite um ajuste automático do consumo com base na ocupação ou no comportamento dos hóspedes, resultando em economia de custos e práticas mais sustentáveis. As operações de manutenção também são otimizadas, com dispositivos IoT capazes de identificar falhas ou a necessidade de manutenção preventiva, reduzindo o tempo de inatividade e os transtornos para os clientes.
Da mesma forma, a segurança também é fortalecida pela IoT, que oferece monitorização contínua de aeroportos, destinos e acomodações. Sistemas inteligentes podem detetar riscos em tempo real, como emergências médicas ou atividades suspeitas, permitindo respostas rápidas e eficazes. Esses sistemas ajudam a prevenir situações de risco e aumentam a confiança dos turistas relativamente à segurança dos locais que visitam [1][2][3][4].
Apesar dos benefícios, o uso de IoT no turismo também apresenta desafios importantes que devem ser abordados. Um dos principais é a questão da privacidade dos viajantes. A recolha de dados por dispositivos IoT pode gerar preocupações entre os consumidores, que podem sentir-se desconfortáveis com a monitorização das suas atividades e preferências. É essencial que as empresas de turismo sejam transparentes sobre o modo como os dados são recolhidos e utilizados, assegurando que as informações pessoais dos clientes sejam protegidas e respeitando as regulamentações de privacidade (RGPD, por exemplo).
A segurança cibernética é outro ponto crítico. Com a interconetividade de sistemas e dispositivos o risco de ataques cibernéticos aumenta e as empresas têm de adotar medidas robustas para garantir que os dados dos clientes e as operações não são comprometidos. Sistemas IoT, se mal configurados ou protegidos, podem tornar-se vulneráveis a invasões, com potenciais danos significativos tanto para as empresas quanto para os turistas. Implementar criptografia, autenticação de múltiplos fatores e monitorização constante é fundamental para mitigar esses riscos.
Outro desafio relevante é a interoperabilidade entre os sistemas. Num setor tão diversificado como o turismo, onde diferentes plataformas e tecnologias têm de coexistir, é essencial que os dispositivos IoT funcionem de maneira integrada e harmoniosa. A falta de padronização entre os sistemas pode gerar complicações, dificultando a implementação das soluções tecnológicas em aeroportos, hotéis, atrações e demais áreas da indústria [3].
O alojamento local é um dos setores que mais se beneficiam da adoção de IoT [5]. Plataformas como Airbnb já adotam tecnologias de automação e monitorização para melhorar a gestão de propriedades:
Nos principais aeroportos globais, o IoT já está a ser utilizado de maneira inovadora para melhorar a experiência dos passageiros e otimizar a operação [6][7][8]. O Aeroporto Internacional de Dubai, por exemplo, utiliza sistemas de monitorização em tempo real para rastrear o fluxo de passageiros através de sensores de movimento e câmaras conectadas a redes IoT. Esses sensores ajudam a identificar congestionamentos em áreas de segurança e check-in, permitindo que o aeroporto redirecione passageiros para filas menos movimentadas, reduzindo os tempos de espera.
Outro exemplo prático é o Aeroporto de Heathrow, em Londres, que utiliza a tecnologia de rastreamento de bagagens conectadas via IoT. Cada bagagem é etiquetada com dispositivos RFID, permitindo que os passageiros acompanhem em tempo real onde estão as suas malas por meio de uma aplicação. Além disso, sistemas IoT no aeroporto monitorizam a movimentação de bagagens em esteiras e áreas de despacho, ajudando a evitar perdas e acelerando a entrega aos passageiros.
O Aeroporto Internacional de Hong Kong também usa sensores inteligentes para gerir a climatização e o consumo de energia em diferentes partes do terminal, ajustando automaticamente a iluminação e a ventilação de acordo com a quantidade de pessoas presentes, resultando numa operação mais eficiente e sustentável.
Destinos turísticos como Barcelona e Singapura estão na vanguarda do uso de IoT para criar cidades inteligentes que melhoram a experiência do turista enquanto reduzem o impacto ambiental [9][10][11]. Em Barcelona, sensores conectados estão instalados em locais turísticos populares, como Las Ramblas e a Sagrada Família, para monitorizar a quantidade de visitantes em tempo real. Esses dados são utilizados para evitar a superlotação, redirecionando os turistas para atrações menos movimentadas ou horários alternativos. Além disso, os sensores de IoT controlam a iluminação pública em função da presença de pessoas, economizando energia nas áreas menos frequentadas.
Em Singapura, um exemplo de turismo sustentável facilitado pelo IoT é a utilização de sistemas de monitorização de tráfego e controlo de poluição em tempo real. Durante grandes eventos, como o Grande Prémio de Fórmula 1, sensores IoT são utilizados para gerir o fluxo de veículos e turistas, ajudando a evitar congestionamentos e reduzir emissões de carbono. Os sensores também monitorizam os níveis de poluição e ajustam automaticamente os sistemas de ventilação e purificação de ar nas áreas mais movimentadas, contribuindo para um ambiente mais saudável para os moradores e visitantes.
Outro caso de interesse é o festival Glastonbury no Reino Unido, onde o IoT foi utilizado para gerir a recolha de resíduos de forma mais eficiente. Caixotes equipados com sensores inteligentes avisam as equipas de limpeza quando estão cheios, permitindo uma gestão otimizada da recolha de lixo, evitando o acumular de resíduos durante o evento e promovendo a sustentabilidade ambiental.
O uso de inteligência artificial (IA) integrada à IoT permitirá que sistemas turísticos aprendam com o comportamento dos consumidores e adaptem serviços de forma ainda mais precisa. Por exemplo, casos em que um resort onde os quartos ajustam automaticamente o ambiente, e os serviços de concierge virtual podem prever e atender às necessidades dos hóspedes antes que eles façam qualquer pedido.
De igual modo, a tendência crescente de sustentabilidade no turismo também será impulsionada pela IoT. A gestão inteligente de recursos como água e energia será essencial para destinos que pretendem reduzir o seu impacto ambiental e atrair turistas preocupados com a sustentabilidade. Sensores IoT podem monitorizar e otimizar o uso de energia, ajudando hotéis e resorts a reduzir seu consumo [4].
Em suma, a IoT está a transformar a indústria do turismo, oferecendo novas oportunidades para personalizar a experiência do viajante, melhorar a eficiência operacional e garantir a segurança. Embora existam desafios, como a privacidade e a interoperabilidade de sistemas, os benefícios superam em muito os riscos. À medida que mais destinos e serviços adotam a tecnologia, o futuro do turismo será cada vez mais conectado e inteligente.
André Leite, Consultant
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Referências:
[1] Buhalis, D., & Amaranggana, A. (2015). Smart tourism destinations. In Information and communication technologies in tourism.
[2] Gretzel, U., Sigala, M., Xiang, Z., & Koo, C. (2015). Smart tourism: Foundations and developments. Electronic Markets.
[3] Lee, I., & Lee, K. (2015). The Internet of Things (IoT): Applications, investments, and challenges for enterprises. Business Horizons.
[4] Kim, Hyunsu & So, Kevin Kam Fung & Shin, Seunghun & Li, Jing. (2024). Artificial Intelligence in Hospitality and Tourism: Insights From Industry Practices, Research Literature, and Expert Opinions. Journal of Hospitality & Tourism Research. 10.1177/10963480241229235.
[5] Biermann, R. (2017). One-Click Check-In/Check-Out for Airbnb guests using an AWS IoT Button
[6] Koenig, Frank & Found, Pauline & Kumar, Maneesh. (2019). Improving maintenance quality in airport baggage handling operations. Total Quality Management & Business Excellence. 30. 1-18. 10.1080/14783363.2019.1665772.
[7] Alteryx, (2024). Predicting Passenger Flows at Dubai International Airport: An IoT Case Study.
[8] Hong Kong International Airport (2020). Big data drives energy efficiency
[9] Estela, M., Salvador A. C., (2015). Tourism analytics with massive user-generated content: A case study of Barcelona, Journal of Destination Marketing & Management, Volume 4, Issue 3, 2015, Pages 162-172, ISSN 2212-571X, https://doi.org/10.1016/j.jdmm.2015.06.004.
[10] Ranasinghe, D. (2013). Singapore: the world’s first smart nation?
[11] Circular economy (2019). Glastonbury 2019: Waste management key priority for majority of festival attendees.